Mudanças de planos: que sorte a nossa!

Como somos sortudos por termos o poder de mudar! Como é bom se transformar inúmeras vezes enquanto buscamos ser o que precisamos ser. A vida cada dia nos cobra uma nova postura, um novo jeito de pensar e agir. Quanto mais imutáveis tentamos ser mais nos prendemos ao que não precisamos ser. E como sofremos por isso.

Celebro com gosto essa capacidade incrível de mudar. Que prazer sinto ao perceber o quanto já não sou a mesma de ontem. O passado serve muito bem de estudo para a evolução. Não tem coisa mais gostosa do que olhar para ontem e ver o quanto já avançamos na jornada.

Gosto da velocidade da minha mudança, gosto de ir mais rápido, pra cima e pra baixo. Ver como vou serpenteando pela árvore da vida enquanto encontro minhas raízes e celebro a vida em cima da copa das árvores.

As vezes me entoco por baixo das raízes da árvore, cuidando do meu ninho secreto onde deposito todas as minhas esperanças e me escondo de todos os meus medos. Refúgio sagrado e ancestral. Alí nada me abala porque não há nada que não possa ser destruído para renascer. Troco de pele, morro e renasço. Abandono todas as cascas que vivi e me sacudo de felicidade com uma pele nova e brilhante!

Quando quero subo serpenteando pelos galhos, rolando e rodando, cada escama brilhando com a luz do sol e as gotas do orvalho fresco da manhã. Me aqueço nos raios de sol por cima das arvores onde sinto o sabor das matas, das flores, dos cheiros e sabores. Onde tudo brilha com cor e explode em arco-íris.

Danço e serpenteio com alegria pois nem a minha forma é finita
Me adapto, me desarmo, reúno ou estico tudo o que tem dentro de mim
Serpenteio! Serpenteio! Danço, balanço esse lindo ciclo infinito que não espera nada
Além de nós do que mais mudança!

ARROBOBOOOI meu pai Bessén. Dan Dan Dan Balah! O maior de todos Dambala, só muito alegria e felicidade por ser sua escolhida em talvez, quem sabe um dia, ser aqui e na outra vida o mistério da serpente arco-íris.

Victória Lisboa

UM POEMA

Escrito no inverno de 2021, durante as experiências de atenção plena que tem me trazido de volta ao presente com total consciência. Muito influenciado pelo contato com o mundo da navegação e os esportes aquáticos.

Imagem e realidade: leitura da nova era

“As imagens veiculadas pela mídia chegam até nós como imagens prontas, rápidas, efêmeras e sem tempo para serem digeridas, pensadas. Contrário a isso, temos a arte e, especificamente, a arte contemporânea, que nos exige um tempo maior para apreciação, digestão e compreensão de seus possíveis significados.”

Miguel Luiz Ambrizzi
Blue Tunnel por James Turrell

Vivemos a Era das Imagens através das telas dos celulares, tablets e computadores. A soberania digital revela a importância das imagens ao longo da história, sendo talvez, a produção humana mais importante de todos os tempos; o poder da comunicação dos símbolos e a experiência do expectador através das imagens.

A utilização de imagens não é novidade, desde que o homem se entende como diferente dos outros seres vivos do planeta por sua capacidade de abstração e cognição; nós produzimos arte. Através da história da arte observamos a evolução humana através dos graus de complexidade atingidos nas manifestações artísticas; tanto por seus significados quanto pelas técnicas utilizadas. Começamos rabiscando com materiais rudimentares encontrados na natureza em paredes de cavernas para agora produzirmos complexos materiais audiovisuais feitos de forma totalmente digital que brincam a lógica e desafiam nossos sentidos e noção de realidade.

Nunca foi tão desafiador quanto hoje em dia compreender a arte; extrair informações das diferentes expressões artísticas tem se tornado uma verdadeira jornada ao interior do expectador em busca de significados que dependem cada vez mais do repertório de referências culturais, históricas, estéticas, sociais, filosóficos e etcs, individuals de cada um. A arte por tradição sempre foi uma instigadora de questionamentos da realidade, não só do criador mas como também daquele que observa a criação do artista.

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Equilibrismo dos excessos

Um poema dos opostos

Tudo é duplo, tudo tem dois pólostudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa.”

Pendulo que balança
da luz para as sombras
me leva flutuando de arraste
no vai e vem da vida

Quando salto em voo alucinado
provo a luz na ponta da língua
a chama que queria eternizar
da felicidade quase o pra sempre

Espaço confinado nas sombras dos meus medos
pêndulo que me arrasta pra dentro
descompassa o tic-taque do meu tempo
escorrego na confiança do próximo passo que me perco

De lá pra cá, daqui pra lá

balanço emputecida
quando acho que já estou,
não estou mais
oras subo, segundos desço

Nem tanto ao céu

nem tanto ao inferno
riria Deus da minha cara enquanto o Diabo toca
acordes harmônicos em dó maior
para combinar com as penas

das asas que perdi tentando me equilibrar

VICTORIA LISBOA

O canto das sereias nas redes sociais: Simbolismo da Sereia

Quando eu morrer

Voltarei para buscar os instantes

Que não vivi junto do mar

– MARIA BETHÂNIA
Sereias do ser, em pastel oleoso, por Kaligula. Junho de 2021
Sereias do Ser, Pastel Oleoso (Junho 2020) – Kaligula. “Quando pintei essas sereias, na saudade de casa durante a pandemia em São Paulo, não tinha em mente o tamanho do meu reencontro com seu simbolismo ao retornar para Búzios. ”

” Tudo é uma evolução constante

O que antes foi, hoje não é mais

O que seria, nunca foi

Sereias que navegam nas águas do tempo, não se afogam nas profundezas do ser

Elas conhecem o segredo da criação

Sabem que tudo nasce, morre e renasce nas águas “

Não é raro encontrar algum rabo de peixe de ponta cabeça com indicações solares de água e felicidade. Por todos os lugares vemos referências da figura mitológica feminina que habita a imaginação da liberdade dos prazeres na água. Sejam as de água doce, posando em rios e cachoeiras, ou as do sal repousadas em suas cangas de praia ou pranchas de surfe.

O misticismo das donzelas meio habitantes das profundezas decora um dos arquétipos femininos mais presente nos dias de hoje; principalmente em áreas do litoral onde a vida praiana é muito mais do que apenas um estilo de vida; mas também uma cultura enraizada que se desenrola todas as suas atividades ao redor do mar e do sol. Como é o caso da cidade em que moro, Búzios.

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Ruptura: Energia da mudança

” Nada é permanente, exceto a mudança “

HERÁCLITO
Ruptura, o exagero da mudança, 2020 – Kaligula

” Em tudo existe um exagero
em ser, sentir

Dizer e fazer

Dos exageros que mais gosto,
a mudança.

A ruptura,
o ponto de ignição

Romper com o velho
abrir espaço para o novo

É minha história de amor favorita “


Conforme o tempo tem passado percebo que não sou nada além do que uma coleção de rupturas. Cada ruptura que abracei durante todas as minhas mudanças de fases é mais importante do que cada casca que vesti.

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A magia de Rosa Caveira

Foi na calunga que um boato se espalhou

Uma mulher da morte retornou

“Numa caverna na estalagem das almas, perdida vagava me perguntando onde estava. Uma moça pegou minha mão, disse que precisava me apresentar a alguém, seu vestido pintado pelo meio me chamou atenção.
Ela ajeitou a rosa no cabelo, olhou para mim e disse que a melhor parte de estar morta era poder dar risada, e gargalhou na minha cara.
A mão de esqueleto que me segurava, guiava-me pela escuridão com passos de dança entre os mortos.”

Acordei nesse dia com o nome Rosa Caveira claro na minha mente, um pouco confusa porque nunca tinha tido qualquer tipo de envolvimento com Exus na época, mas não havia dúvidas de que tinha sonhado com uma pomba gira e que ela tinha se apresentado. Meu conhecimento sobre esses espíritos não passava de um grande respeito, que me fazia não me aventurar no campo da espiritualidade brasileira por receio de desrespeitar essas entidades. Mas após esse sonho, foi como se a minha memória fizesse questão de reviver cada momento da minha infância em que fiquei impressionada com as histórias de envolvimento com a macumba da minha família.

Percebi que guardava com muito carinho cada informação colhida quando criança das conversas entre minha mãe, tia e avó. Fascinada, ouvia elas contando sobre o que tinham pedido em busca de proteção e cura, bisbilhotava com curiosidade os objetos abençoados que elas traziam dos centros que protegeriam nossa família. Tudo era muito fantástico e misterioso sobre essas histórias, e a boneca dada por um espírito era o objeto de atenção mais disputado entre mim e minhas irmãs.

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O dilema do artista e o preço da própria arte

“A arte tem que nos revelar ideias, essências espirituais amorfas. A suprema questão para uma obra de arte é quão profunda é a vida de onde ela brota.”


JAMES JOYCE
Mercúrio em Câncer, o eclipse do ser, 2020 - Kaligula
Mercúrio em Câncer, o eclipse do ser, 2020 – Kaligula

Acredito que todos os artistas tem que passar pelo processo de aprender valorizar a própria arte. Não apenas no sentido de encontrar o próprio valor através da arte, mas também no quesito mais econômico da coisa.

Essa parece ser uma das fases que não só começa a carreira do artista mas também onde brotam as primeiras sementes do reconhecimento do trabalho artístico.
E assim como uma adolescente, eu me sinto passando essa fase. Uma fase cheia de inseguranças e questionamentos que me fazem refletir sobre o quanto vale a minha arte.

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Pela metade morta, para a viva: um desabafo em tempos de quarentena

” Quando, seja pela felicidade ou pela desgraça, é a alma especialmente impressionada, chega-se a supor que a nada mais ela se faz sensível.”

Dante Alighieri
Rosa Caveira, em arte digital – Kaligula, 2020

Então, o mundo virou de cabeça pra baixo de vez ultimamente. Não que as coisas estivessem normais antes, muito pelo contrário. Só que na ultima porção de dias, que se perderam nas minhas contas, não tenho mais esperado por nada dentro do que consideraria normal em outras circunstâncias. Num panorama longe, talvez eu já tenha me afastado tanto do que é normal, que a própria anormalidade já se tornou rotina.

O que me assusta.

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Algumas experiências com arte digital

“Descobri que sou um criador de imagens e não me importo como é feito – seja através de pintura, fotografia ou desenho – só quero criar imagens”

JAMES STANFORD
Diana da Lua,
Diana da Lua

Na metade do ano passado comprei uma mesa digitalizadora para tentar me aventurar pelo mundo da arte digital. O que eu mais estranhei foi a falta de contato com a tinta fisicamente, já grande parte do fazer artístico e seus prazeres  está relacionada com toda experimentação em busca dos tons. Isso sem falar da adaptação ao programas de edição e pintura digitais, que são necessários pra fazer os desenhos.

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